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“Nada me deixava mais tranquilo, contudo, do que os sons da máquina de escrever vindos do quarto ao lado. Era meu pai, escritor, que trabalhava depois que todos haviam ido dormir. O batuque no teclado, o ronco grave do rolo girando com o papel e a sineta do carro tilintando ao ser devolvido à posição inicial – plim! – me garantiam a presença de um adulto, ali ao lado: se não ao alcance das mãos, ao menos dos ouvidos.”

 

Antonio Prata em Nu, de Botas

[Dicas da Imensidão] Semana #12

A sétima edição do Clube do Livro do Achados & Lidos nos fez entender um pouco mais porque só se fala de Margaret Atwood. A escritora canadense tem uma habilidade ímpar para transformar a banalidade da vida em literatura profunda, nos fazendo refletir sobre questões contemporâneas, como feminismo, envelhecimento, poder da imagem e da propaganda – temas que aparecem com frequência nos contos de Dicas da Imensidão – sempre de forma surpreendente, com mensagens indiretas, nas entrelinhas. Para quem está triste com o fim da leitura, recomendamos fortemente O Conto da Aia, reeditado recentemente pela Editora Rocco.

Foi também a primeira vez que optamos por um livro de contos para o Clube, e achamos que o formato funcionou muito bem! Esperamos que vocês tenham gostado tanto quanto a gente. Abaixo, publicamos comentários de alguns de nossos leitores, como já fizemos anteriormente.

A oitava edição do Clube do Livro é uma escolha muito especial. Scholastique Mukasonga foi, sem dúvida, a autora que mais nos encantou em nossa viagem à Paraty, para acompanhar a Flip de 2017. Escrever, para ela, foi a única escolha possível diante dos acontecimentos trágicos de sua vida. O título escolhido é Nossa Senhora do Nilo, lançado pela Editora Nós. No nosso perfil no Instagram (@achadoselidos), estamos sorteando um exemplar autografado pela autora. Quer incentivo maior para participar do Clube? Junte-se a nós em mais essa leitura!

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[Resenha] Quarenta Dias

A leitura de Quarenta Dias é como um abraço amigo. A ternura do texto de Maria Valéria Rezende incorpora aquilo que tanto procuramos na literatura: identificação.

Alice, personagem central do romance, é uma professora aposentada, que sai da Paraíba e se muda para o Rio Grande do Sul por pressão da filha. Aparentemente, nenhuma similaridade entre mim e Alice. No entanto, poucos personagens me inspiraram tamanha empatia.

O tom confessional da narrativa é propício para esse sentimento. Em um caderno velho, com a Barbie na capa, Alice despeja suas memórias, especialmente as mais recentes, desde sua mudança a contragosto para o sul.

Alice criou a filha sozinha depois que o marido desapareceu – ao que tudo indica, vítima da violência da ditadura. Não foram poucos os sacrifícios de mãe, mas o maior deles ainda estava por vir. Norinha casou-se com um gaúcho e se fixou em Porto Alegre. Quando decide engravidar, não o faz sem antes comunicar Alice e propor, em tom mais de exigência que de pedido, que a mãe se mude para o sul para ajudá-la com a criação do neto.

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[Divã] Histórias da Flip, parte 2

Ela sobe ao palco. É magra, jovem, de vestido com miúdas estampas animais e cabelo curto. Sua figura não nos prepara e nem antecipa a potência do discurso que vem a seguir. A poeta pernambucana Adelaide Ivánova participou da série Fruto Estranho, que convidou autores a fazer intervenções  e performances antes de seis mesas da programação do Auditório  da Matriz, uma das novidades, da Flip  (Festa Literária Internacional de Paraty) de 2017. Seu texto começou assim:

O problema não é que as pessoas lembrem por meio de fotos, mas que só se lembrem das fotos. Lembrar, cada vez mais, não é recordar a história, e sim ser capaz de evocar uma imagem.

Na foto preto e branco, o corpo de Angela Diniz está de bruços, descalço, de blusa e meia calça, sem a parte de baixo da roupa. Sangue na altura da cabeça. Angela Diniz foi assassinada em 1976 pelo namorado, com três tiros no  rosto e um na nuca.

A foto do corpo de Angela está online.

Ivánova prosseguiu em voz firme, por pouco mais de dez minutos, a relatar minuciosamente feminicídios que ocorreram há poucos ou muito anos, durante o período democrático ou na ditadura, casos célebres e mortes esquecidas pela imprensa, sempre nos lembrando que as fotos desses corpos estão online.

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“Por períodos bem longos, de qualquer forma, pessoas podem permanecer imperturbáveis ante evidentes mentiras, porque simplesmente se esquecem de um dia para o outro do que foi dito, ou porque estão sob um bombardeio tão constante de propaganda que ficam anestesiadas para tudo que acontece.”

 

George Orwell em
O que é o fascismo? E outros ensaios

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